A Cidade do Sol

Capítulo 1 O Nascimento de uma Harami

Em um vilarejo afastado, no norte do Afeganist?o, Mariam nasce sob o signo da vergonha. Sua m?e, Nana, uma mulher amarga e de espírito irascível, vive afastada da sociedade, em uma pequena casa situada nas montanhas. Nana guarda uma história triste e dolorosa, que explica sua raiva constante: ela foi abandonada por Jalil, um homem casado, que a usou por um breve período e depois a deixou com a filha, uma crian?a ilegítima, uma “harami”, como ela mesma a chama. Mariam cresce sem entender totalmente as raz?es para a rejei??o de seu pai, e apesar de seus poucos encontros com ele, sente o peso do abandono em cada olhar.

Jalil é um homem rico e influente, dono de uma casa luxuosa na cidade, e sua rela??o com Mariam é marcada pela distancia e culpa. Ele visita a filha regularmente, trazendo-lhe presentes, mas sempre sob condi??es que refor?am a separa??o. Sua m?e, Nana, abomina esses encontros, lembrando Mariam de que ela nunca será digna do amor de Jalil. A vida de Mariam é marcada por uma solid?o profunda, e ela só encontra consolo em livros e sonhos. Ela imagina um futuro onde o amor de seu pai a libertaria de sua condi??o.

Certo dia, Mariam, tomada por um desejo de saber mais sobre o mundo exterior, decide visitar Jalil em sua casa na cidade. Ela faz isso contra a vontade de Nana, acreditando que finalmente encontrará o afeto que sempre procurou. No entanto, ao chegar à casa de Jalil, ela se depara com a dura realidade de ser ignorada e deixada do lado de fora. Ele n?o a recebe e, em seu lugar, um empregado lhe diz que ela n?o é bem-vinda ali.

Esse momento é um ponto de virada para Mariam. Ela é confrontada pela crueldade da rejei??o e pela verdade nua e crua de sua posi??o no mundo. Este abandono final refor?a sua sensa??o de ser uma intrusa, uma mulher sem lugar, sem valor. Ela retorna à casa de sua m?e, agora mais determinada a compreender sua identidade, mas também mais marcada pela dor da rejei??o de um pai que nunca a quis verdadeiramente.

O impacto desse momento é profundo. Mariam come?a a entender que, por mais que ela tenha sonhado com um futuro diferente, a vida lhe reserva uma jornada de solid?o e sofrimento, e que talvez nunca escape da sombra de ser considerada uma "harami", um ser fora de lugar na sociedade. A amargura de sua m?e, que sempre lhe advertiu sobre a crueldade do mundo, se torna cada vez mais clara e presente em sua vida.

Capítulo 2 Sonhos de Vidro Estilha?ado

Ao retornar da humilhante visita à casa de Jalil, Mariam encontra sua vida irreversivelmente alterada. Ela descobre que a decis?o de desafiar os avisos de Nana teve consequências devastadoras: sua m?e, consumida pelo desespero e pela sensa??o de abandono, tirou a própria vida. O choque dessa tragédia dilacera o cora??o de Mariam, que se vê envolta em uma culpa esmagadora. Ela acredita que a morte de Nana é uma puni??o por ter ousado desejar mais do que sua existência humilde e isolada lhe oferecia.

Sem outra alternativa, Mariam é levada à casa de Jalil. Lá, ela finalmente adentra o mundo que tanto idealizou. Contudo, a recep??o é tudo menos acolhedora. As esposas de Jalil, rígidas e frias, veem-na como uma inconveniência, um lembrete do passado impróprio de seu marido. Mariam percebe rapidamente que n?o há lugar para ela ali; ela é uma estranha, tolerada apenas por obriga??o. Jalil, incapaz de enfrentar sua própria culpa, se mostra cada vez mais distante, evitando confrontar os sentimentos de Mariam ou as consequências de suas a??es.

Em pouco tempo, as esposas de Jalil decidem que Mariam deve ser “resolvida”. Para elas, isso significa casá-la com um homem mais velho, Rashid, um sapateiro de Cabul. O anúncio é feito sem o consentimento de Mariam, como se sua vida fosse um simples negócio a ser negociado. Jalil, para seu desgosto, concorda, mostrando que, apesar de suas palavras doces, ele sempre colocará sua reputa??o e conveniência acima do bem-estar de Mariam.

Mariam protesta, suplicando a Jalil que n?o a envie para longe. Ela deseja desesperadamente permanecer ao lado de seu pai, na esperan?a de construir o vínculo que sempre sonhou. Mas suas súplicas caem em ouvidos surdos. No dia de seu casamento, Mariam sente-se como um objeto, sem voz ou poder sobre seu próprio destino. Ela veste as roupas cerimoniais com m?os trêmulas, enquanto as lágrimas silenciosas escorrem por seu rosto. O casamento, em vez de ser um momento de alegria, é marcado por um profundo senso de perda e desola??o.

Rashid, o homem que agora é seu marido, parece inicialmente cortês, mas há algo inquietante em sua postura e palavras. Ele é muito mais velho, severo e com um ar autoritário que Mariam n?o consegue ignorar. Após a cerim?nia, ela é levada para Cabul, uma cidade desconhecida e assustadora para uma jovem que nunca havia saído de sua vila. As ruas cheias de movimento, os sons caóticos e a opress?o do ambiente urbano esmagam qualquer senso de conforto que ela pudesse ter.

Enquanto Mariam tenta se adaptar à sua nova vida, ela percebe que suas esperan?as e sonhos de infancia foram completamente destruídos. A promessa de um futuro melhor, de um mundo além das limita??es impostas por sua m?e, foi uma ilus?o frágil, t?o facilmente quebrada quanto vidro. Agora, ela deve enfrentar uma nova realidade: uma vida ao lado de um homem que ela mal conhece, em uma casa que nunca será um lar. As palavras de Nana ecoam em sua mente como um lembrete sombrio: o mundo é um lugar cruel, e para mulheres como Mariam, n?o há escapatória.

Capítulo 3 Um Casamento de Conveniência

Chegando à nova casa em Cabul, Mariam é recebida por um ambiente frio e desconfortável. A casa de Rashid reflete sua personalidade: funcional, sem calor ou beleza. Embora Rashid a trate com alguma cortesia inicial, há uma distancia evidente entre eles. Ele imp?e suas regras de maneira rígida, deixando claro que espera obediência absoluta de Mariam. Para ela, tudo é estranho: desde o layout da casa até as ruas da cidade. Ela sente-se como uma estrangeira em seu próprio mundo.

Nos primeiros dias, Rashid tenta estabelecer uma fachada de bondade, oferecendo pequenas gentilezas, como um presente inesperado: um burca. Mariam, que nunca havia usado a vestimenta, reage com confus?o. Rashid explica que é para sua “prote??o” e honra, mas Mariam sente-se sufocada pelo peso do tecido e pelo simbolismo do controle que ele representa. O burca torna-se um lembrete constante de sua nova realidade, onde sua liberdade é limitada e seu rosto deve permanecer escondido.

Enquanto Rashid sai para trabalhar, Mariam tenta preencher seus dias cuidando da casa e explorando o ambiente ao seu redor. As ruas de Cabul, com suas feiras movimentadas e os gritos de vendedores, s?o ao mesmo tempo fascinantes e intimidantes. No entanto, mesmo nessa cidade vibrante, Mariam sente uma solid?o esmagadora. N?o há ninguém com quem ela possa compartilhar suas angústias, e suas tentativas de criar uma rotina s?o interrompidas pelas demandas imprevisíveis de Rashid.

O relacionamento entre eles come?a a se desgastar rapidamente. Rashid, que inicialmente parecia gentil, logo revela um temperamento volátil. Pequenos erros de Mariam – como a comida queimada ou um objeto mal colocado – tornam-se motivo para explos?es de raiva. Ele a critica constantemente, minando sua autoconfian?a e lembrando-a de sua posi??o subordinada. Mariam come?a a perceber que o casamento n?o é apenas uma pris?o física, mas também emocional.

Ao mesmo tempo, Mariam carrega a esperan?a silenciosa de engravidar, acreditando que a chegada de um filho poderia trazer alguma luz para sua vida sombria. Quando descobre que está esperando um bebê, ela sente um breve momento de alegria e propósito. Contudo, essa felicidade é cruelmente interrompida quando sofre um aborto espontaneo. O impacto dessa perda é devastador. Rashid, em vez de consolá-la, reage com frieza e desprezo, culpando-a pelo ocorrido e refor?ando sua desaprova??o.

O aborto marca o início de uma fase ainda mais sombria no casamento. Rashid torna-se abertamente abusivo, e Mariam vive com medo constante de suas rea??es. Ela se esfor?a para agradá-lo, mas nada parece ser suficiente. A casa, que já era um espa?o desconfortável, transforma-se em um lugar opressor, onde cada canto ecoa com a tens?o entre eles.

Em meio a essa escurid?o, Mariam come?a a refletir sobre as palavras de Nana, que sempre alertara sobre a dureza da vida para mulheres como elas. A voz de sua m?e ressoa em sua mente, uma lembran?a dolorosa de que talvez nunca houvesse esperan?a real de escapar de um destino cruel. Mariam percebe que está presa em um ciclo de sofrimento, sem apoio, sem amor e sem a chance de ser vista como algo mais do que uma mulher que deve suportar em silêncio.

Capítulo 4 O Amanhecer de uma Amizade

Anos se passam, e a vida de Mariam com Rashid continua marcada por um ciclo interminável de abuso e isolamento. Enquanto isso, a cidade de Cabul come?a a mudar, refletindo as tens?es políticas e sociais que crescem no Afeganist?o. Em meio a esse cenário, uma nova figura entra em sua vida: Laila, uma jovem vizinha cuja presen?a inesperada trará um raio de esperan?a e, ao mesmo tempo, desafios inimagináveis.

Laila, diferente de Mariam, é filha de um professor apaixonado por educa??o e progresso. Crescida em um lar amoroso, ela foi ensinada a valorizar a aprendizagem e sonhar com um futuro brilhante. No entanto, sua vida sofre uma reviravolta devastadora quando uma bomba atinge sua casa durante a guerra civil, matando seus pais e deixando-a gravemente ferida. Rashid, ao ouvir sobre a tragédia, resgata Laila e a traz para sua casa. Para Mariam, a chegada da jovem é um choque, despertando sentimentos conflitantes.

No início, Mariam vê Laila como uma intrusa. A presen?a dela, t?o jovem e bonita, parece um lembrete doloroso de tudo o que Mariam perdeu. Além disso, Rashid rapidamente demonstra um interesse impróprio por Laila, vendo nela uma oportunidade de ter a esposa submissa e fértil que sempre desejou. Ele prop?e casamento à jovem, justificando sua oferta como um ato de prote??o, mas suas inten??es s?o claramente egoístas. Laila, devastada pela morte de seus pais e grávida de Tariq, seu amor de infancia, sente que n?o tem outra escolha a n?o ser aceitar.

O casamento de Rashid e Laila cria uma tens?o insuportável na casa. Mariam, agora oficialmente a "primeira esposa", se ressente profundamente de Laila, vendo-a como uma rival. As duas mulheres inicialmente se evitam, trocando olhares desconfiados e palavras duras. Mariam sente que sua posi??o já precária na casa foi ainda mais diminuída, enquanto Laila luta para encontrar uma maneira de sobreviver à nova realidade.

No entanto, em meio à hostilidade, pequenas rachaduras come?am a surgir no muro entre elas. Um dia, Rashid explode de raiva contra Laila, e Mariam, pela primeira vez, intervém. Esse momento marca o início de uma mudan?a lenta, mas profunda. Laila percebe que Mariam, apesar de sua aparente dureza, também é uma vítima do mesmo sistema opressivo. Ela come?a a enxergar Mariam n?o como uma rival, mas como uma aliada.

Aos poucos, uma amizade inesperada floresce entre as duas. Elas encontram consolo uma na outra, compartilhando histórias, dores e sonhos. Mariam, que passou a maior parte da vida em isolamento, come?a a sentir algo novo: o calor de uma conex?o humana genuína. Laila, por sua vez, vê em Mariam uma figura materna, alguém que entende as lutas que ela enfrenta. Juntas, elas come?am a planejar formas de resistir à tirania de Rashid, fortalecidas pela solidariedade que agora compartilham.

Essa amizade transforma a dinamica na casa. Apesar das dificuldades e do perigo constante, Mariam e Laila encontram momentos de alegria e cumplicidade. Elas riem, compartilham segredos e cuidam uma da outra como irm?s. Para Mariam, isso representa um renascimento emocional; pela primeira vez, ela sente que n?o está completamente sozinha no mundo. Essa conex?o recém-descoberta se torna sua ancora, dando-lhe for?a para enfrentar os desafios que ainda est?o por vir.

Por trás das portas fechadas da casa de Rashid, algo poderoso come?a a crescer: um vínculo que n?o apenas desafia as normas impostas pela sociedade patriarcal, mas também representa uma esperan?a renovada. Para Mariam e Laila, essa amizade é uma forma de resistência e sobrevivência, um lembrete de que, mesmo nas circunstancias mais sombrias, o amor e a solidariedade podem florescer.

Capítulo 5 Sobrevivendo em Meio às Ruínas

Enquanto a amizade entre Mariam e Laila se fortalece, o Afeganist?o ao seu redor continua em colapso. O conflito político transforma Cabul em um campo de batalha, e a violência permeia cada aspecto da vida cotidiana. Bombardeios, cortes de energia e escassez de alimentos tornam a sobrevivência ainda mais difícil. No entanto, dentro da casa opressiva de Rashid, Mariam e Laila encontram uma for?a inesperada uma na outra, enfrentando juntas tanto os perigos externos quanto os internos.

A tens?o na casa aumenta à medida que Rashid percebe que está perdendo o controle sobre as duas mulheres. Ele tenta reprimir qualquer sinal de resistência, usando violência física e psicológica para reafirmar sua autoridade. Em momentos de fúria, ele ataca ambas sem piedade, e mesmo assim, Mariam e Laila encontram maneiras de apoiar uma à outra, cuidando de seus ferimentos e compartilhando palavras de conforto. A alian?a entre elas, apesar de silenciosa, representa uma amea?a ao domínio de Rashid.

Laila, por sua vez, encontra for?a no amor por seus filhos, especialmente por Aziza, a filha que teve com Tariq. Aziza torna-se uma fonte de alegria e esperan?a na casa, seu sorriso inocente iluminando até os momentos mais sombrios. Mariam, que nunca teve a chance de ser m?e, desenvolve um vínculo profundo com Aziza, tratando-a como se fosse sua própria filha. Para Mariam, cuidar de Aziza é um lembrete do que poderia ter sido, mas também um presente inesperado em meio à escurid?o de sua vida.

Com o tempo, Rashid, enfrentando dificuldades financeiras, decide enviar Aziza para um orfanato. A decis?o é devastadora para Laila, que tenta lutar contra ele, mas é for?ada a ceder diante de sua violência. Mariam acompanha Laila em visitas ao orfanato, enfrentando os perigos das ruas destruídas pela guerra para ver a menina. Essas visitas, embora breves, tornam-se momentos de resistência e esperan?a para as duas mulheres, que se recusam a deixar Aziza ser esquecida.

Enquanto isso, a chegada de notícias inesperadas transforma a dinamica dentro da casa. Tariq, o grande amor de Laila, retorna a Cabul, vivo após anos de separa??o. Laila descobre que Rashid havia mentido sobre a morte de Tariq, usando a falsa notícia para manipulá-la a se casar com ele. O reencontro entre Laila e Tariq é carregado de emo??o e renovada esperan?a. Tariq, agora um homem mais velho e marcado pela guerra, oferece a Laila e seus filhos a promessa de uma nova vida, longe da violência e opress?o de Rashid.

A revela??o da mentira de Rashid leva a uma explos?o de conflitos dentro da casa. Rashid, sentindo-se traído e humilhado, torna-se ainda mais agressivo, especialmente em rela??o a Laila. A situa??o chega a um ponto de ruptura, quando ele tenta sufocar Laila em um acesso de fúria. Mariam, ao testemunhar o ataque brutal, é tomada por uma coragem inesperada. Em um ato desesperado para salvar Laila, Mariam atinge Rashid com uma pá, matando-o.

Esse momento de violência, embora trágico, simboliza a liberta??o de Mariam e Laila do domínio de Rashid. Pela primeira vez, elas têm o poder de decidir seus próprios destinos. No entanto, Mariam sabe que a liberdade tem um pre?o. Ela decide assumir a responsabilidade pelo assassinato, permitindo que Laila, Tariq e as crian?as escapem para uma nova vida juntos. Mariam aceita seu destino com dignidade, ciente de que seu sacrifício dará a Laila e seus filhos a chance de um futuro que ela nunca teve.

Enquanto Mariam é levada pelas autoridades, ela reflete sobre sua vida. Embora tenha sido marcada por sofrimento, ela sente uma paz inédita ao saber que seu ato final foi de amor e prote??o. A amizade com Laila e o vínculo com Aziza deram um novo significado à sua existência, provando que, mesmo em meio às ruínas, a bondade e a coragem podem prevalecer.

Capítulo 6 O Legado do Sacrifício

Mariam enfrenta seu destino com uma dignidade que surpreende até aqueles que a julgam. Na pris?o, longe da casa onde sofreu por tantos anos, ela encontra uma breve, mas profunda paz. As outras mulheres encarceradas, muitas delas vítimas de injusti?as semelhantes, olham para Mariam com admira??o. Ela sente, pela primeira vez, que n?o está completamente sozinha no mundo. As memórias de sua amizade com Laila e seu amor por Aziza tornam-se sua for?a nos dias finais.

Quando o dia de sua execu??o chega, Mariam caminha com a cabe?a erguida, refletindo sobre o significado de sua vida. Ela n?o é mais a jovem que cresceu sentindo-se uma desgra?a; tornou-se uma mulher que encontrou sua voz e tomou as rédeas de seu destino, mesmo que por um breve momento. Na sua mente, as palavras de sua m?e, Nana, ressoam: “Uma mulher deve suportar.” Mas Mariam sabe que fez muito mais do que suportar – ela lutou, amou e, finalmente, se sacrificou para dar aos outros uma chance de liberdade.

Enquanto isso, Laila e Tariq come?am uma nova vida em um local seguro, longe da destrui??o de Cabul. Eles se estabelecem em Murree, no Paquist?o, onde criam Aziza e Zalmai com esperan?a renovada. Laila, embora grata pela liberdade que finalmente conquistou, carrega a perda de Mariam em seu cora??o. Ela nunca esquece o sacrifício que sua amiga fez para que ela pudesse ter essa segunda chance. O nome de Mariam torna-se um símbolo de for?a e resistência em sua vida.

Com o passar dos anos, o Afeganist?o come?a a reconstruir-se após a retirada dos talib?s. Laila e Tariq decidem retornar a Cabul, sentindo-se compelidos a ajudar na recupera??o de seu país. Eles assumem a gest?o de um orfanato, um gesto simbólico que honra n?o apenas as crian?as desamparadas pela guerra, mas também Mariam, que dedicou tanto amor e cuidado a Aziza.

Em um momento particularmente emocionante, Laila visita a antiga casa onde Mariam passou a maior parte de sua vida com Rashid. A casa, agora vazia e em ruínas, traz lembran?as dolorosas, mas também um sentimento de gratid?o. Laila encontra um objeto esquecido – uma das poucas coisas que Mariam trouxe de Herat: o pequeno bloco com a letra do Cor?o que Jalil lhe deu. Esse objeto torna-se um tesouro para Laila, uma conex?o tangível com a mulher que mudou sua vida para sempre.

Em homenagem a Mariam, Laila toma uma decis?o significativa: se tiver outra filha, dará a ela o nome de Mariam. Esse ato n?o é apenas um tributo, mas também uma promessa de manter viva a memória de uma mulher cuja coragem e sacrifício n?o ser?o esquecidos. Laila encontra consolo em saber que, mesmo na morte, Mariam continua a ser uma for?a que inspira e guia sua vida.

O romance encerra-se com um vislumbre do futuro. Apesar das cicatrizes da guerra, há esperan?a nas ruas de Cabul. Crian?as brincam, escolas reabrem, e mulheres voltam a ocupar espa?os públicos. Para Laila, a reconstru??o do país reflete sua própria jornada de dor, perda e reden??o. Ela sabe que o caminho ainda será difícil, mas sente-se fortalecida pelo legado de Mariam, que permanece como uma lembran?a de que, mesmo nas circunstancias mais sombrias, o amor, a amizade e a coragem podem prevalecer.

O sacrifício de Mariam n?o foi em v?o. Sua história é um testemunho da resiliência humana, mostrando que mesmo os mais oprimidos podem deixar um impacto duradouro no mundo. E, em Cabul, no cora??o de uma cidade que renasce das cinzas, o espírito de Mariam vive nos atos de bondade e compaix?o que Laila e Tariq compartilham com aqueles ao seu redor.